A origem do Teatro Vicentino



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Em 1502, aquando do nascimento de D. João III, na câmara da rainha em convalescença de parto, foi representado o Auto da Visitação ou o Monólogo do Vaqueiro. O autor e ator foi o mestre Gil Vicente e essa pantomina pastoril assinala o nascimento do teatro em Portugal.

Gil Vicente é um dos grandes criadores da Literatura Teatral Ibérica e Medieval. Não há certezas quanto à terra do seu nascimento, embora Guimarães seja uma hipótese. Certa é a sua origem de condição burguesa e sua cultura exercitada no domínio das línguas portuguesas e castelhanas.

Este dramaturgo vai à fidalguia da corte e à massa anónima popular buscar o retrato de uma época e traçar o perfil duma sociedade na trilogia medieval do clero, nobreza e povo.

Gil Vicente distrai e faz reflectir, provoca e moraliza. Sem atacar o Igreja, fustiga o mundanismo do clero. Suaviza a crítica para melhor penetrar na corte do rei e ao povo dá recados.

O dramaturgo percorre o universo da intimidade e os seus autos são um admirável observatório satírico do pensamento do século XVI. O Teatro Vicentino agarra os vícios e os desmandos duma sociedade tipificada no religioso e mitológico. Dialoga com a fé, a alma, a morte, o tempo, a verdade e a mentira. É um mestre que dá forma escrita às indecisões do teatro medieval.

 

O berço do teatro

É na Antiguidade Clássica que nasce o teatro. Os Gregos concebiam os deuses como potências supram humanas que se introduziam entre os homens, tomando a sua consciência e adoptando as suas formas. A representação desta intervenção da divindade na vida humana provoca um conflito que em linguagem teatral se chama Tragédia. Um conflito entre dois mundos e duas realidades opostas: a divina que representa tudo o que é essencial, definitivo, eterno; a humana que responde pela contingência do sentimento, do erro, da ignorância…

O Cristianismo faz encarnar a divindade, Deus faz-se homem em Cristo e o conflito desaparece. Nasce o Drama. O homem livre, faz e decide sem anuências com a divindade. A oposição disputa-se agora entre diferentes personalidades que se guerreiam ao ponto de um vencer o outro, com desfecho violento ou sangrento, irónico ou tranquilo.

As personagens são os agentes do teatro que gradualmente abandonam o culto do deus Dionísio, a fonte, para se humanizarem e prostituírem noutros heróis que fazem rir e sofrer. Desse modo, a Tragédia opõe-se à Comédia e o Drama à Farsa. Heróis que incarnam qualquer coisa que está na personalidade de toda a gente. A Comédia faz rir porque os seus personagens se riem deles mesmos e, nessa onda, arrastam os espetadores. A farsa confunde o seu ridículo com o ridículo daquilo que pretende fazer-nos rir. O espetador ri das personagens e das situações em que eles mesmos se encontram e ri, sobretudo, de si próprio.

O século XVII é um grande período de criação teatral com obras e nomes sonantes em todo o espaço europeu: Lope de Veja na literatura espanhola; Moliére e Racine na classicismo francês e o génio Shakespeare, encarnação definitiva das paixões e dos conflitos na linguagem teatral.

O século seguinte lança as bases do romantismo e nomes como Geothe e Shiller são a ponte que torna possível a suave transição para o sentimentalismo burguês, de liberdade individualista e de religiosidade indefinida.

Emílio Zola e Dumas juntam-se, no século XIX, a Almeida Garret que em Frei Luís de Sousa explora de forma trágico dramática a fatalidade do destino.

Mas, em 1920, aparece Luís Pirandello, figura central de toda a literatura contemporânea. O teatro de Pirandello é o teatro do homem total, a “passerelle” para Sartre, Brecht e Ionesco.

 

 

Autor: Luis Filipe
Data: 2011-08-14


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